No capítulo 10 do seu livro “The Vatican in World Politics”, Avro Manhattan diz o seguinte:
A
história do Catolicismo político contemporâneo na Alemanha começou, por
assim dizer, durante a formação e consolidação do Primeiro Império
Germânico. Uma olhada no comportamento do Vaticano, nesse período
crítico, demonstra a consistência da política fundamental da Igreja
Católica em geral e esclarece os seus malabarismos políticos. Eles
sempre têm feito parte do seu método de atingir os objetivos com a
formação do Partido Católico, o Partido de Centro, o qual desempenhou
papel de grande relevância na vida alemã.
Que um Estado
protestante como a Prússia pudesse dominar a vida política de numerosos
Estados católicos alemães provocou a maior hostilidade na Igreja
Católica e fez com que Bismarck, ao estabelecer o Império Germânico,
reconhecesse que o poder centralizado no Vaticano era um inimigo por
demais sutil aos seus planos. Estadistas, antes e depois de Bismarck,
haviam enfrentado esse mesmo problema, porém Bismarck o enfrentou com
verdadeira brutalidade bismarquiana…
“Será que esta grande
corporação, isto é, a Igreja Católica Romana, um terço de toda a
população alemã, deve obedecer em assuntos civis, as leis feitas pelo
Parlamento ou os mandatos emitidos por uma turma de padres italianos?”
Não
houve dúvida sobre a resposta do Vaticano. Ela se estendeu, de Roma até
os bispos da Alemanha, e dos bispos para o seu clero mais baixo e o
laicato. A máquina total que a Igreja Católica possuía foi logo colocada
em movimento. Dos púlpitos fulminaram denúncias que eram mais adequadas
a plataformas políticas, e no Parlamento apareceu, então, o Partido
Católico devotado aos interesses do Vaticano. Ele foi liderado pelo
influente estadista Windthorst. Antes da incorporação de Hanover à
Prússia, esse estadista havia exercido um posto de comando no Gabinete
de Hanover. Era conhecido pela sua ambição, seus grandes poderes como
líder parlamentar, e pelo seu ódio contra a nova ordem estabelecida.
Os
dois homens se tornaram símbolos das duas forças opostas. Visto como o
poder do Vaticano havia se fortalecido pela fórmula da Infalibilidade, a
conclusão lógica era a da exigência da Igreja Católica sobre a vida de
um Estado e sobre a moldagem da sociedade. O resultado foi uma longa
luta, na qual foram engajados quase todos os membros da hierarquia
católica alemã. Os mais notórios foram os bispos de Ermeland e Paderborn
e os Arcebispos de Colônia e Posen. Então, logo apareceram os jesuítas.
Eles haviam estado sempre ativos contra a Alemanha, durante as guerras
austríacas e francesas e não apenas haviam instigado as diferenças
religiosas, mas também os ódios políticos e raciais, especialmente na
Polônia e na Alsacia-Lorena. À medida em que o tempo passou, suas
atividades cresceram e a luta se tornou ainda mais árdua. Não só devido à
interferência dos jesuítas, mas através do esforço da hierarquia
romana. Todos os meios foram empregados para retirar dos púlpitos e das
cátedras docentes, todos os que não haviam aceito o dogma da
Infalibilidade. E como esses homens assim relegados eram pagos pelo
Estado, as autoridades civis resistiram. Isso conduziu a tal violência
na pregação que levou à publicação das “Leis de Púlpito”.
Bismarck
nomeou um homem forte como Ministro da Adoração – com o nome de Falk – e
ao mesmo tempo foi proposto por Bismarck que um embaixador alemão fosse
enviado ao Vaticano. Essa proposta foi rejeitada.
Em 1872, todo o
corpo de jesuítas foi expulso da Alemanha. Isso foi muito
significativo, visto como os jesuítas, mesmo quando foram expulsos de
todas as nações da Europa, e até mesmo de Roma pelo próprio papa, haviam
permanecido em paz nos domínios prussianos. O Vaticano ordenou que os
católicos alemães denunciassem Bismarck e o Estado. E isso, os
arcebispos e bispos fizeram, na linguagem mais violenta. O próprio papa
ameaçou Bismarck com a vingança de Deus, a qual, segundo ele, iria
alcançá-lo.
As represálias logo aconteceram. O representante
diplomático alemão, o qual, entrementes, fora enviado ao Vaticano, foi
retirado e o que veio a ser conhecido como as “Leis Falk” ou as “Leis de
Maio” foram promulgadas.
A luta em sua pior fase perdurou por
mais de cinco anos. O Vaticano respondeu, ordenando que o clero alemão
lançasse anátemas contra as autoridades civis e contra todos aqueles que
se recusassem a reconhecer o papa como único infalível portador da
verdade. A autoridade religiosa, foi declarado, deve estar acima de
todas as autoridades civis. Dentro das igrejas era pregado que a
educação do clero era um assunto do Vaticano e não do Estado. E que
nenhum católico tinha o direito de separar-se da Igreja Católica. Uma
vez católico, para sempre católico.
Conforme a Lei Canônica, o
casamento era um sacramento e somente a Igreja Católica poderia
oficiá-lo em cerimônia religiosa. A isso, afirmava a Igreja, não tinha
direito o Estado. Eles não apenas instigaram o ódio religioso e racial
na Polônia e Alsacia-Lorrena, como usavam o bairrismo provinciano em
Estados católicos como a Bavária e as provícias do Reno, fomentando o
aumento desse bairrismo. Então, conduzidos pelo clero, os católicos se
tornaram rebeldes. Através de ítens de questão religiosa e moral eles
criaram a desordem social, civil e política e o desassossego, tudo isso
dirigido de Roma [pelos Jesuítas].
O governo respondeu com a
expulsão de padres dos seus púlpitos e de professores e bispos, com
multas e prisões amplamente espalhadas. Numerosas ordens religiosas
foram expulsas do reino. À medida em que piorava o conflito, os bispos e
arcebispos eram jogados em prisões e o Arcebispo de Posen ali ficou por
mais de dois anos.
A luta não ficou confinada à própria Alemanha,
mas se espalhou por vários países da Europa. Católicos fervorosos
começaram a organizar complôs e planos, a fim de prejudicar o Estado e
seus representantes.
Um jovem católico, que havia sido educado
numa escola clerical, tentou assassinar Bismarck, atirando nele durante
um passeio em Kissingen, e quase o conseguiu. A bala atingiu a mão de
Bismarck quando ele a levantou até a cabeça, num ato de saudação
responsiva.
O governo respondeu com medidas ainda mais severas.
Numerosos membros católicos do Parlamento foram presos e o casamento
civil foi estendido por todo o império.
O conflito não terminou
aí. O próprio papa entrou no conflito. Outra encíclica foi emitida por
Pio IX. Ela declarava repúdio às leis e as anulava, considerando ímpios
os seus criadores. Desse modo, renovava o incitamento à desobediência
civil e à guerra civil, de forma que a luta entrou numa fase mais árdua.
A hierarquia católica, o laicato católico e os políticos católicos
foram obrigados a apoiar a encíclica. A Igreja Católica nada deixou por
fazer no sentido de assegurar os seus objetivos. Ao instrumento político
do Vaticano na Alemanha, o Partido de Centro, foram dadas instruções,
se é que destas ele carecia, para não demonstrar misericórdia alguma com
o governo. Através de todo esse período liderado por Windthorst, o
Partido de Centro, somando ¼ do Parlamento, lutou, indiscriminadamente,
contra todas as medidas de Bismarck, não importando quão distantes elas
estivessem dos interesses religiosos.
Mas em 1878 Pio IX faleceu. O
novo papa foi Leão XIII. Tanto ele como Bismarck tentaram alcançar uma
espécie de compromisso. Bismarck começou a ter encontros com Windthorst e
com o representante do papa, Jacobini, e a base para um entendimento
foi estabelecida. Um novo ministro, Schlozer, foi enviado ao Vaticano e o
governo usou de grande discrição ao administrar as Leis Falk. Essa
reaproximação continuou com tal sucesso que o papa pediu um retrato de
Bismarck. Logo depois, Bismarck pediu que o papa fosse mediador entre a
Alemanha e a Espanha com relação às exigências destas duas nações às
Ilhas Carolinas. Medidas adicionais para diminuir as ordens severas de
ambos os lados prosseguiram, até que Bismarck começou a confiar no apoio
do Partido Católico Alemão, para as medidas principais de sua nova
política financeira e econômica.
O pior da luta havia passado e
foi estabelecido um modus vivendi. Não foi de modo algum extraordinário
que o Estado tivesse diminuído suas exigências contra a Igreja e
decidisse respeitar, e até mesmo apoiar, algumas exigências da mesma. Ou
que o Vaticano desenvolvesse uma íntima amizade com o chanceler
autoritário, uma vez que ambos odiavam e temiam os princípios
democráticos e liberais. Visto como as questões religiosas haviam sido
resolvidas, eles se tornaram íntimos parceiros e combateram,
indiscriminadamente, os princípios e idéias que acreditavam ser
perigosos ao absolutismo religioso na Igreja e ao absolutismo político
no Estado.
É muito significativo que o Vaticano, através do
Partido de Centro, por mais de uma vez, primeiro tenha sido hostil a uma
plataforma de governo ou estadista e em seguida tenha se tornado o seu
aliado. Essas mudanças, que se apresentaram como inconsistentes, são o
contrário disso. Pois, conquanto inconsistente possa o Vaticano ser em
seus métodos, ele jamais perde de vista os seus objetivos finais, os
quais consistem em assegurar os interesses da Igreja Católica. E esse
mesmo procedimento foi seguido várias vezes na Alemanha, bem como em
toda a Europa, nos anos subseqüentes.
No caso da Alemanha de
Bismarck, quando o Vaticano agiu em primeiro lugar com hostilidade à
idéia de que uma Prússia protestante governasse os Estados e os súditos
católicos, ele foi hostil porque Bismarck, paradoxalmente, desejava
realizar reformas liberais. Embora, à nossa moderna concepção, essas
reformas não fossem sensacionais, elas eram então, e em sua forma atual
continuam sendo – um anátema à Igreja Católica.
Bismarck não era
um amante da democracia, mesmo patrocinando reformas liberais; ele não
era um amante da democracia ao combater o Vaticano. Nem o foi ao se
tornar seu amigo – pelo contrário. E o Vaticano verificou isso, o que
explica ter este se tornado seu amigo íntimo. Uma vez que à Igreja foi
garantido que os seus interesses seriam respeitados e sua causa mantida
em resistência aos perigosos ideais do Secularismo, do Liberalismo e,
acima de tudo, do Socialismo, seu curso estava livre. Ela sabia que,
além de ganhar importantes vantagens através da vontade forte e
autoritária de Bismarck, nele teria um bastião no qual poderia confiar.
O
Vaticano sempre tem tido e continua tendo uma predileção pelos homens
fortes. Quando sentiu que podia confiar em Bismarck, o Kaiser, e
finalmente em Hitler, o Fuehrer, ele lhes deu apoio. No Partido de
Centro e na hierarquia católica alemã o Vaticano possuía dois
instrumentos para atingir seus objetivos políticos. E é esclarecedor
percorrer as vicissitudes do Partido Católico Alemão.
Desde o
princípio, sua membresia foi muito mista. Ela incluía trabalhadores e
empregadores, ricos proprietários de terras e camponeses, aristocratas e
eruditos, oficiais e artesãos. Ao contrário do Partido Católico
Austríaco, elementos progressistas e reacionários eram representados nas
fileiras do Partido Alemão e sua característica fundamental era que sua
base não era política, mas religiosa. Em razão de sua natureza
peculiar, o Partido de Centro não se confinava aos problemas nacionais e
após sua criação ele deu um típico exemplo disso.
Em 1870, as
tropas da Itália Unida ocuparam Roma e aboliram os Estados papais.
Imediatamente, o Partido Católico de Centro exigiu que Bismarck
interviesse em favor do papa. Bismarck respondeu que “os dias de
interferência nas vidas de outros povos haviam terminado”. O Partido
Católico de Centro foi mais longe e pediu a intervenção militar na
Itália. Falou de uma “Cruzada através dos Alpes”. Bismarck enviou um
protesto ao Vaticano, sabendo muito bem de onde provinha a inspiração do
partido. A resposta dada foi que o Vaticano estava impossibilitado de
fazer qualquer censura ao Partido de Centro.
Durante os dez anos
de luta contra Bismarck, o Partido aumentara grandemente a sua membresia
e quando, finalmente, um entendimento entre o Vaticano e o governo foi
alcançado, na década de 1890, o Partido Católico de Centro capitulou ao
Reich Hohenzollen e aceitou o seu domínio protetor. Foi esse o início de
uma trilha que, se não tivesse sido palmilhada pelo Partido Católico,
provavelmente teria mudado a história da Alemanha. Em vista da
composição histórica e das condições prevalecentes na Alemanha, então um
Partido Católico devia “tornar-se um reservatório de oposição real e
importante… a oposição da Alemanha do Sul e Ocidental ao Estado militar
sob a hegemonia da Prússia”, conforme as palavras certas de um escritor
alemão.
Como se deu essa capitulação? Ela foi apenas um erro ou uma política bem calculada?
Embora
os principais sustentáculos do Partido Católico fossem as massas
campesinas e os trabalhadores católicos, até a metade da I Guerra
Mundial a sua liderança estava sob o controle total dos aristocratas
conservadores e da hierarquia católica superior. Foi essa liderança que
teve interesses comuns em temer os mesmos inimigos dos não católicos. Os
conservadores e aristocratas da Alemanha levaram o partido a uma
aliança com o Reich Imperial. Foi exatamente a hostilidade conjunta do
militarismo prussiano e do Catolicismo em direção a certas fórmulas
sociais, políticas e econômicas que finalmente os tornou íntimos aliados
dos dois inimigos mortais. Essas fórmulas estavam incorporadas nas
doutrinas e princípios do Liberalismo nas esferas econômicas, sociais e
políticas. O Partido Católico iniciou violentíssima campanha contra o
que era descrito como “o Capitalismo anti-cristão, judeu e liberal”
arremessando invectivas constantes, como aquelas que se tornariam tão
familiares durante o regime nazista… a “Ímpia Escola Manchester”, “O
Capital Judaico Usurário” e o “Moloque Liberal do Dinheiro”, etc.
Se
os anátemas lançados contra os princípios liberais e o Estado Liberal
pelos vários papas forem relembrados, não é difícil entender a
hostilidade do Catolicismo contra o Liberalismo e sua resultante aliança
com o reacionário militarismo prussiano. Foi uma conseqüência natural
da condenação do Vaticano ao Liberalismo de qualquer forma –
conseqüência essa, a qual partindo dos campos religioso e moral, havia
sido trasladada para os campos social e político. Menos clara, talvez,
deveria parecer a razão que induziu o Catolicismo a se tornar tão
anti-semita. Esse peculiar anti-semitismo era quase a característica
comum entre o Catolicismo político da Alemanha e da Áustria. O espírito
anti-semita e a fraseologia foram cuidadosamente norteados, tanto pelo
Catolicismo alemão como pelo austríaco, a fim de atacar os princípios e a
influência do maior inimigo político da Alemanha e da Áustria – isto é,
o movimento socialista.
Os movimentos socialistas estavam
pregando a democracia econômica, social e política. Estavam convidando
os homens a se filiarem aos mesmos, independente de sua religião, raça
ou cor. Os papas e todo o espírito que animava a Igreja Católica eram
fundamentalmente hostis às idéias democráticas, ao socialismo e à
igualdade, quer fosse educacional, econômica ou social. De fato, eram
contra qualquer reforma apoiada por novas idéias e métodos políticos.
Eles alimentavam nas mentes dos membros da Igreja Católica o desprezo e o
ódio pelo espírito democrático e um desejo de se aliar ao
autoritarismo. Essa atitude, os seus membros levaram para dentro do
Partido Católico. Com o passar dos anos, os seus ensinos penetraram
profundamente e, desse modo, prepararam ideologicamente, sem perceber,
as massas para aceitar a idéia de uma ditadura. Foi isso que aconteceu
ao Partido de Centro Alemão.
Houve ainda outra causa para o
comportamento do Partido de Centro que as influenciou grandemente e as
ajudou a desenvolver sua crescente atividade. Ela proveio da rivalidade e
conseqüente hostilidade demonstrada pela Igreja Católica contra a
Igreja Ortodoxa, especialmente a Igreja Ortodoxa Russa (vide capítulo 17
– O Vaticano e A Rússia) – outro resultado automático. Como essa
hostilidade religiosa foi inoculada em todos os católicos, inclusive os
alemães, quando ela foi trasladada ao campo político, desenvolveu-se em
ativa hostilidade política contra a ortodoxia, a qual, para os alemães,
era representada pela Rússia. A autoridade assim gerada estava em
completa harmonia com a política expansionista do Kaiser – um elo
adicional entre o Catolicismo e o Imperialismo da Alemanha. Isso foi
executado a tal extensão que durante a Guerra Russo-Turca, o
catolicíssimo Windthorst declarou, entre outras coisas de igual natureza
que, em última instância, ela era uma questão de “se o mundo deveria
ser dominado pelo elemento eslavo ou alemão”. A hostilidade contra a
Rússia eslava e ortodoxa demonstrada pelo Partido Católico atingiu tal
ponto que trouxe uma censura do Bispo von Ketteler “pela excessiva
autoconfiança germânica”. Foi essa a ideologia que preparou o Partido
Católico a chamar o seu órgão principal de Germânia – um jornal que mais
tarde seria comprado pelo camareiro do papa – Franz von Papen.
Quando
o Comunismo, um inimigo bem maior e mais determinado da Igreja Católica
e dos sistemas econômico e social por ela apoiados, atingiram o poder
na Rússia, a hostilidade da Igreja foi centuplicada no campo ideológico,
bem como no campo político ativo. O Partido de Centro raramente deu um
passo importante sem antes consultar o Núncio Papal, que foi durante
muitos anos o Cardeal Pacelli, o qual apoiava qualquer homem ou política
que se opusesse à Rússia Soviética. Por causa disso não é de espantar
que o Partido Católico tivesse aceito com tal alegria e satisfação a
“Cruzada contra o Bolchevismo” pregada em Roma pelo papa e em Berlim por
Hitler.
Durante um quarto de século, antes da explosão da I
Guerra Mundial, o Partido Católico, com exceção de um curto período de
conflito com o Príncipe Buelow, foi o grupo mais forte no Estado Alemão.
E também era o mais importante aliado exclusivo de todos os chanceleres
do Reich Alemão, dos Hohenhole até os Beltmann-Holweg, e também um dos
principais entre os que apoiavam o imperialismo alemão. Esse apoio foi
bem expresso pelo primeiro líder do Partido, Windthorst, quando tratou
da questão política alemã referente à atitude adotada em direção ao
exército alemão. Ele declarou no Reichtag: “reconheço que o exército é a
instituição mais importante do nosso país e que sem ele os pilares de
nossa sociedade ruiriam”.
Windthorst foi sucedido por Ernst
Lieber, que seguiu os mesmos passos do seu antecessor. Ele era um dos
mais entusiastas entre os que apoiavam as aspirações colonialistas da
Alemanha e um grande advogado da Grande Política Naval do Kaiser, de tal
modo que von Tirptz lhe fez um agradecimento em suas “Memórias”. Lieber
foi um constante e influente patrocinador da catastrófica política
levada a efeito pelo Kaiser, advogando um exército maior, uma Armada
Naval maior, uma política expansionista no exterior e muita educação na
terra natal. Essa política não poderia ter sido viável sem a cordial
cooperação do Partido de Centro que ele liderava. Durante a I Guerra
Mundial, eles permaneceram firmes num front unido de todos os partidos
políticos alemães que eram a favor da guerra. Conforme diz B. Menne, o
Partido de Centro foi um dos mais ardorosos entre os que apoiavam uma
“Alemanha Maior”, advogando agressivamente a exigência não cristã de um
“implacável prosseguimento de guerra”. Eles foram também dois
importantes proponentes da ditadura estabelecida pelos generais.
O
Partido de Centro apoiou as mais desarvoradas exigências do
imperialismo alemão, tal como as anexações, tanto no Oriente como no
Ocidente. Seu líder, nesse período, Peter Spahn, definiu as visões do
Partido no que mais tarde seria chamada “Nova Ordem na Europa” após a
vitória do Kaiser. Dirigindo-se ao Reichtag, na primavera de 1616, ele
disse: “Os anseios da paz devem ser os anseios do Poder. Devemos mudar
as fronteiras da Alemanha, conforme o nosso julgamento… A Bélgica deve
ficar nas mãos da Alemanha, política, militar e economicamente”. O
Partido foi até mais longe e estava à frente dos mais fanáticos
imperialistas alemães. O jornal católico Hochland exigia a anexação de
Bellfort… “com as antigas fronteiras de Lorena e Burgundy e, finalmente,
as costas do Canal”.
Isso não foi tudo. Quando em 1915, Von
Tirptz exigiu que todos os navios comerciais que entrassem nas zonas de
guerra fossem afundados, sem aviso, pelos submarinos alemães, o Partido
Católico apoiou entusiasticamente essa exigência e declarou-se a favor
de uma irrestrita batalha naval, a qual foi patrocinada pelos generais
industriais, pan-germanos e outros. Hertling, o Primeiro Ministro da
Bavária e um dos líderes do Partido Católico, era amigo íntimo de
Tirptz. Ainda mais digno de nota é que a campanha foi patrocinada pela
própria hierarquia católica. Prova disso, pode ser encontrada nas ações
do Cardeal de Munique, Bettinger, o qual mobilizou o clero rural da
Bavária e deslanchou uma campanha de propaganda eclesiástica a favor de
uma irrestrita guerra submarina. Isso foi a tal ponto que o próprio
Cardeal foi às vilas, agitando os camponeses católicos da Bavária. Em
resposta a muitos protestos, o Cardeal declarou que “seria um crime de
irresponsabilidade da parte alemã se esta deixasse de financiar uma
irrestrita guerra submarina”. O episcopado católico alemão fez eco a
essas palavras e seguiu a campanha, falando para os dignitários
católicos de liderança que apoiassem uma irrestrita guerra submarina e a
violação da neutralidade belga. Vamos citar apenas as palavras
características do futuro Cardeal Arcebispo de Munique, mais tarde, um
proeminente capelão do exército: “Em minha opinião, esta campanha
prosseguirá na história da ética militar como um exemplo perfeito de uma
guerra justa”.
Finalmente, o grupo do Reichtag, do Partido de
Centro, deu um passo realmente sensacional (16/10/1916). Num documento
cuidadosamente redigido, ele disse que o chanceler do Reich, embora
formalmente responsável pela política de guerra alemã, devia obedecer às
ordens do Supremo Comando. E qualquer que seja o decreto emitido por
este, o Reichtag estaria pronto a obedecer. A significação desta
declaração “atingiu muito mais do que a imediata disputa referente a uma
irrestrita guerra submarina. Ela foi, de fato, o primeiro
reconhecimento oficial da ditadura dos líderes do Exército Alemão, não
apenas nos assuntos militares, como também nos assuntos políticos, e a
subordinação do governo do Reich e do Reichtag, àquela ditadura” (B.
Menne – The Case of Dr. Bruening).
A data da declaração também é
significativa. Não decorreu muito tempo, até que um abúlico homem como
Von Moltke, o mais novo na direção do Supremo Comando, em agosto de
1916, passasse o comando para o general Ludendorff.
Ele foi o
primeiro dos ditadores modernos e, em nome do grande Comando, estava
decidido a governar supremamente na Alemanha e não passou muito tempo
para que o conseguisse.
A acusação de que o Partido do Catolicismo
político foi o primeiro da Alemanha a pronunciar a solene capitulação
da Alemanha à ditadura do general Ludendorff pode parecer improvável, e
até mesmo maliciosa, contudo, é um fato histórico, conforme temos
acabado de ver (B. Menne, The Case of Dr. Bruening).
No terceiro
ano da guerra, o Partido Católico foi dirigido por uma trindade de
grupos característicos de todos os partidos católicos, formada de
católicos aristocratas, altos oficiais de estado e importantes
dignitários da Igreja. Eles eram por demais nacionalistas e
reacionários, tendo gerado o descontentamento entre os camponeses e
trabalhadores alemães. Isso foi causado especialmente pelo modo como
administravam a assim chamada “trégua civil” e a recusa de introduzir
uma franquia geral e igualitária na Prússia.
Uma oposição foi
gradualmente formada pela União do Comércio Católico de Rhineland, cujo
porta voz foi Erzberger. Antes e durante a I Guerra Mundial, ele havia
desempenhado um duvidoso papel político como um dos diretores do grupo
católico industrial Thyssen, no Reichtag. E foi quando ele apelou para a
anexação do depósito de ferro francês de Briey. Ele estava em ótimas
relações com Tirpitz e, como líder da propaganda alemã, ele auxiliou o
General Ludendorff a atingir o poder.
Em 1917, Erzberger se
desligou de tudo. Ele recebeu certa informação que o convenceu de que a
Alemanha não tinha qualquer chance de ganhar a guerra. O General
Hoffmann, comandante dos exércitos alemães no Oriente, e o Conde
Czernin, Ministro Austríaco do Exterior, contaram-lhe que a Alemanha
estava em situação desesperadora.
Mas o impulso mais importante
veio do próprio Vaticano. O papa Benedito XV [mentor da aparição de
Fátima], viu com ansiedade que a situação dos poderes de Centro estava
se deteriorando rapidamente. Não há razão alguma para crer que ele
desejasse a sua vitória. Mas, pelo menos, está bem claro que ele estava
ansioso para evitar a derrota destes. A Áustria era o único poder
católico que ainda existia no mundo e a posição dos católicos na
Alemanha era uma das que lhe justificavam as grandes esperanças. Em tais
circunstâncias é compreensível que o papa visse uma solução nada
desfavorável para os dois países e para esse fim ele se propôs a
prejudicar a primeira ameaça de mediação entre Londres e Berlim. A
exigência preliminar foi uma declaração da Alemanha referente aos seus
objetivos no Ocidente. Foi aí que começou a tarefa de Erzberger.
O
papa enviou a Munique um dos seus sacerdotes diplomatas, um jovem muito
habilitado chamado Eugênio Pacelli (mais tarde núncio papal e em
seguida Pio XII), a fim de estabelecer relações com o futuro homem que
iria governar os círculos políticos da Alemanha, Erzberger. Chocado com a
revelação que este lhe fez sobre a posição desfavorável da Alemanha
naquela guerra, Erzberger teve boa vontade e apoiou a ação do papa. Um
discurso feito por ele, no dia 06/07/1917, causou profunda impressão no
Reichtag e teve um efeito muito sóbrio em geral. Isso foi apenas o
começo. Erzberger trabalhou incansavelmente para prover o papa com a
declaração de que este necessitava, como passo preliminar, à sua
intervenção. Foi, de fato, especialmente graças a Erzberger, que no dia
19/07/1917 certa maioria do Reichtag, consistindo de católicos,
socialistas e liberais, adotou uma resolução em favor da “paz sem
anexações e indenizações”. Até mesmo o Kaiser ficou satisfeito com a
adoção dessa fórmula útil, embora tivesse feito uma pequena reserva: a
renúncia de uma decisão pela força das armas não devia ser aplicada à
Alemanha.
A situação logo se inverteu, quando a Rússia entrou em
colapso, em setembro de 1917. A Alemanha logo esqueceu a Resolução de
Paz, a fórmula de garantia socialista e católica contra uma completa
derrota, e os generais alemães ditaram os tratados de paz de
Brest-Litovsk e Bucarest. Mas, quando em novembro de 1918 a Alemanha
caiu, Erzberger, o iniciador da famosa Resolução de Paz, foi escolhido
como o homem para negociar o armistício. O Marechal de Campo, Von
Hindenburg, pediu que Erzberger aceitasse a árdua tarefa. “Com lágrimas
nos olhos e segurando ambas as mãos de Erzberger nas suas, Hindenburg
implorou-lhe que desempenhasse a horrenda tarefa pela sagrada causa do
seu país”.
Esta cena seria repetida exatamente dez anos depois,
quando o Marechal de Campo mais uma vez “profundamente comovido em
lágrimas” tomou as rédeas de outro líder do Partido Católico Alemão.
Erzberger, como presidente da Comissão Alemã de Armistício, assinou o armistício.
Além
de ter-se tornado um convincente democrata, depois da guerra, Erzberger
ficou convencido de que os militaristas eram os principais inimigos de
uma Alemanha pacífica e progressista. Contudo, isso não significa que o
Partido Católico tivesse mudado. Com exceção de Erzberger e de seus
seguidores, o Partido, como um todo, ainda estava totalmente amistoso
com relação ao império do passado. Apenas dois dias após o colapso da
Alemanha, o Partido Católico em Colônia aprovou uma resolução em favor
da retenção da monarquia. Mais tarde, o líder do partido protestou
publicamente contra a expulsão do Kaiser e nesse protesto ele foi
especialmente apoiado pela geração católica de jovens oficiais do
Exército Alemão.
A Igreja Católica, além do seu nacionalismo, foi a
principal instigadora de tal sentimento, e promoveu as exigências do
retorno do Kaiser. Dentro do Partido Católico e entre todos os católicos
da Alemanha, toda a questão foi colocada muito claramente por um dos
principais pilares hierárquicos – o cardeal Faulhaber. Dirigindo o
Congresso Católico de Munique, ele declarou: “A revolução foi um
perjúrio e alta traição e ficará para sempre rotulada na história como a
marca de Caim”’.
A “marca de Caim” era apenas uma expressão
bíblica para o que nas palavras mais exatas dos nacionalistas
significava “ataque traiçoeiro”. Ao mesmo tempo e no mesmo lugar
(Munique), Hitler estava pregando a mesma coisa!
Embora o Partido
Católico condenasse a Revolução, e odiasse os Vermelhos, mesmo assim
tomou parte no governo republicano. Como disse um católico, “tomando sua
posição na base dos fatos apresentados”. Isto não queria dizer que
houvesse acontecido uma mudança no coração do Partido, significava
apenas que este precisava se adaptar a uma nova situação a fim de
atingir os mesmos objetivos. Ao lidar com os Partidos Católicos, devemos
nos lembrar que eles são apenas os instrumentos com os quais a Igreja
Católica anseia alcançar determinados objetivos morais e religiosos.
Desse modo, o Catolicismo político, mesmo sem mudar um til em seu
programa, pode adaptar-se a novas situações, para mais facilmente fazer
movimentos táticos, os quais se tornariam muito difíceis a outros
partidos, cujos princípios são apenas políticos e sociais, e que para
estes seria um assunto do mais profundo princípio.
Sob o governo
do Kaiser, o Partido de Centro fora ostensivamente monárquico e
imperialista. Sob a República de Weimar, ele aparentava ter-se tornado
republicano e democrata. O que realmente havia acontecido é que ele teve
de se adaptar às novas circunstâncias, a fim de melhorar o seu caminho
em direção aos seus objetivos. E continuou sendo o que sempre fora – um
Partido Católico.
Esta não é uma questão de mera opinião. Os fatos
falam por si mesmos. O Partido de Centro mudou suas táticas, até mesmo
fazendo alianças, embora sempre provisórias, com os odiados partidos
Vermelho e da Ala Esquerda, porém jamais mudou o seu curso determinado.
Se compararmos os vários movimentos do Partido de Centro, durante os
primeiros dez anos da República, de 1919 a 1929, poderemos ver que um
movimento para a direita era sempre seguido de um movimento para a
esquerda, o qual, por sua vez, era seguido novamente de um movimento
para a direita. [A especialidade do Catolicismo sempre foi dançar
conforme a música e no final ficar ao lado do vencedor]. Um passo à
frente, dois passos para trás sempre fora de fato a sua política,
através de toda a existência da República. Em algum tempo, o
desenvolvimento da ala esquerdista quase parecera ser possível,
principalmente em razão dos efeitos da derrota na guerra passada.
Contudo, a propagação das idéias democráticas entre os trabalhadores
católicos, e até mesmo entre os cidadãos da classe média, incluindo
jornalistas, professores, etc., provou ser apenas uma explosão
temporária. Isso foi confirmado quando o líder da ala católica democrata
do Partido de Centro, Erzberger, foi assassinado, no outono de 1921,
por dois membros da organização militar secreta, ancorados na católica
Bavária. Após o assassinato de Erzberger, a tendência em seguir sua
política logo decresceu, até que, finalmente, desapareceu. Quando
Erzberger foi assassinado, o Dr. Marx, juiz prussiano conservador e
presidente do senado legislativo, tornou-se o líder oficial do Partido
de Centro. Sua política foi manter o equilíbrio entre a Direita e a
Esquerda. Convém notar que, a partir de 1924, o Partido de Centro
rejeitou repentinamente a “coalizão Weimar”, que era uma coalizão de
católicos, ala esquerda, liberais e sociais democratas. Isso foi feito
pelo Partido Católico para que pudesse entrar numa coalizão com o
Partido Nacional Alemão. Um governo sob essa combinação foi formado com a
chancelaria sendo entregue ao católico Dr. Marx. Isto significava que o
Partido Católico, apesar do grande apoio da classe trabalhadora
católica, continuou totalmente com os industriais de peso, os junkers
(aviões de guerra), os super nacionalistas e os elementos militantes,
que levariam a Alemanha à II Guerra Mundial.
Uma vez mais essa
mudança repentina deve ser atribuída ao espírito e às doutrinas morais
da Igreja Católica como uma autoridade religiosa.
A causa principal da mudança na política e da alteração nas táticas do Dr. Marx foi em razão das chamadas Leis Escolares.
A
Constituição Waimer não havia tornado claro que tipo de escola deveria
predominar na República. A disputa foi centralizada no item, se seria a
Igreja Católica ou a Protestante, que teria voz mais alta nos assuntos
educacionais. Ou se o Estado, desconsiderando a Igreja, deveria dar uma
educação secular liberal.
Tentando atingir os seus objetivos, os
católicos alemães, a começar da hierarquia alemã, advogavam que as
escolas deveriam ser supervisionadas pelo clero, e que a escola
confessional deveria ser adotada; isso em detrimento das escolas
seculares. O episcopado alemão, em particular, era muito ativista em
suas exigências – uma militância que foi aumentada pelo encorajamento
dado pelo Cardeal Pacelli, o Núncio Papal, que havia estado em Berlim,
desde 1920.
O desejo da Igreja Católica de ter as escolas
católicas, a fim de educar os católicos alemães, era natural, e não
teria se tornado um grande ítem político nacional, se ela tivesse se
confinado à esfera religiosa. Mas não foi isso o que ela fez. Os itens
religiosos foram transformados em itens políticos e vice-versa. O
Vaticano, quando viu que não podia obter seus objetivos mobilizando sua
máquina hierárquica, fez pressão sobre o seu instrumento político – o
Partido Católico. O Partido assumiu a causa da Igreja Católica e se
aproximou do Partido Nacional Alemão, o qual estava muito acomodado com
relação ao problema escolar. Entrementes, o punho forte do Vaticano
pressionou a política social interna do Partido de Centro. O resultado
foi que a liderança do Partido começou a sufocar a oposição política e
social da ala esquerda do próprio Partido. Ele tentou enfraquecê-la e
para mobilizar os elementos da ala esquerda a dar apoio à política
reacionária do Centro, apelou para os seus princípios religiosos e para
os princípios fundamentais da Igreja sobre este problema educacional.
Desse
modo, a aliança entre o Partido Católico e o potencial e totalitário
Partido Nacional Alemão, foi concluída. Essa coalizão entre Católicos e
Nacionalistas foi um pacto de mútuas garantias. Os Nacionalistas
prometeram leis escolares que teriam introduzido escolas confessionais
sob a supervisão das igrejas. Os Católicos prometeram apoiar os
subsídios industriais, os impostos da importação pós-guerra e a votar,
bastante significativamente, a favor do corte dos gastos sociais. Duas
vezes fora concluído um acordo nestas bases, mas em ambos os casos o
acordo fora quebrado. O primeiro orçamento escolar de 1925 jamais chegou
ao Reichtag e o de 1927 causou a mais violenta disputa dentro da
própria coalizão. O Partido de Stresemann, no final, fez com que fosse
rejeitada. Ambos os concorrentes desejavam ter o controle total da
educação e da formação da juventude. Era a mesma disputa que, anos mais
tarde, haveria entre Hitler e a Igreja Católica.
O segundo
orçamento causou a ruptura da coalizão, a qual finalmente aconteceu, na
primavera de 1928. Houve eleições em maio, as quais resultaram em um
sensacional balanço para a Esquerda, realmente o mais forte, desde 1918.
O resultado foi que no Reichtag o Partido Social Democrata teve os mais
fortes grupos parlamentares na Casa.
Além desse pulo das massas
alemães para os Sociais Democratas, outro choque para a Igreja Católica
foi que o Partido Católico estava entre aqueles que afinal aderiram.
Porém, um choque maior estava para vir. Outros partidos, especialmente
os Sociais Democratas, haviam penetrado no eleitorado católico,
conseguindo com estes numerosos votos. Era uma coisa que a Igreja
Católica e o Partido de Centro achavam que jamais iria acontecer.
Previamente isso jamais havia acontecido. Essa descoberta alarmou
tremendamente as autoridades do Vaticano, bem como o líder do Partido
Católico Alemão. No Vaticano a decisão sobre o Partido de Centro, a qual
havia sido adiada com hesitação, começou a ser delineada. O Partido de
Centro, na esperança de reaver o terreno perdido, abandonou os
Nacionalistas e voltou arrependido à coalizão com os Sociais Democratas.
O Social Democrata Hermann Mueller tornou-se chanceler do Reich.
Isto
aconteceu em 1928. Qualquer um teria profetizado que a Alemanha iria
ter, finalmente, um socialista no governo e, desse modo, embarcaria numa
cooperação com outras nações européias. Mas tal promessa não vingou. Em
1929, apesar de todas as aparências, três homens estavam no comando
central da posição estratégica da República alemã. A combinação
Hindenburg – Groener e Schhleicher estava trabalhando por trás das
cenas, com a intenção de liquidar a República. É interessante recordar
que eles eram o último comando do exército do Kaiser, no tempo da
negociação do armistício, em 1918. Começaram a fazer intriga no campo
militar e, acima de tudo, no campo político, significando que deviam
livrar-se do “cansativo Reich intermediário”, conforme consideravam a
República Alemã, e este foi apenas o primeiro de outros movimentos
importantes.
Em 1929, Hindenburg, pressionado pelos amigos,
começou uma política reacionária mais ativa no Reich. Logo que foram
concluídas as negociações, que então estavam sendo conduzidas, seu
primeiro movimento foi demitir o Chanceler Social Democrata, Mueller, e
seu Ministro do Exterior, Stresemann. O General já estava planejando
abolir o princípio de que o Chanceler do Reich tinha obrigação de
receber o apoio do Parlamento. Um homem deveria ser posto em seu lugar, o
qual deveria ter a “confiança do Exército”. Concordou-se que esse homem
deveria governar através do Artigo 48 da Constituição Waimer, que dava
poderes ditatoriais e se o Parlamento protestasse, seria dissolvido.
Os
conspiradores discutiram qual seria o partido a oferecer
possibilidades, a fim de que eles pudessem tratar da liquidação
definitiva da República, e qual o homem que se encaixaria nos passos
preliminares para a criação de uma ditadura, a qual iria preparar,
eventualmente, o caminho para uma verdadeira ditadura. O Partido de
Centro foi o escolhido. E um dos seus líderes, o católico devoto,
Bruening, foi o candidato escolhido para governar, não com o
consentimento do Parlamento, mas pela graça do Reichswer (Brigada
Militar). A chancelaria foi oferecida ao Dr. Bruening, sob a condição de
que se ele aceitasse com esses objetivos em vista deveria governar
através do Artigo 48 e sob instruções do Reichswer.
Havia um homem
na Alemanha que, embora não sendo alemão, sabia delinear a política
alemã muito melhor do que os líderes alemães. Esse homem era Eugênio
Pacelli, o representante do papa.
Pacelli havia estado na Alemanha
desde 1920 – primeiro em Munique, depois em Berlim. A serviço do papa,
em 1917, ele havia assumido as negociações para uma paz comprometida
entre a Alemanha e os Aliados – tentativa que redundara em fracasso. Ele
havia estado constantemente na Alemanha, desde então, e acompanhara de
perto a política alemã, especialmente a política dos partidos católicos –
o Partido do Povo (Bavária) e o Partido de Centro. Nem um líder
católico de qualquer partido dava um passo de importância sem antes
consultar o Vaticano através do Cardeal Pacelli. E como Pacelli era o
braço direito do papa, muitas decisões importantes ficavam a seu cargo.
Logo
que Pacelli chegou à Alemanha como Núncio Papal, ele criou uma leve
sensação quando, ao contrário do que era esperado, começou a cooperar
com Erzberger. Houve opiniões divergentes sobre isso, visto como as
visões do Cardeal eram bem conhecidas. Alguns garantiam que ele nutria
simpatia pela ala esquerda do Catolicismo. Outros, que ele tentava
controlar e restringir ao máximo a tendência socialista do líder
católico. A última visão parece ter sido confirmada quando, após o
assassinato de Erzberger, Pacelli tratou o seu sucessor Dr. Wirth, com
grande frieza. Mas quando o Dr. Marx assumiu a liderança do partido,
Pacelli se posicionou abertamente ao lado do grupo católico da ala
direita.
O Cardeal e o novo líder do Partido de Centro tornaram-se
íntimos e o Dr. Marx jamais dava um passo sem antes consultar Pacelli, o
qual, de fato, passou literalmente a dirigir a política do Partido
Católico, durante vários anos, a partir desse período. Foi ele quem
primeiro concebeu e em seguida inspirou e promoveu a coalizão do Partido
de Centro com o Partido Nacional Alemão, um passo que traria as mais
terríveis conseqüências para toda a Alemanha.
Quais foram as
razões que levaram o Cardeal Pacelli a empurrar um poderoso partido
político em determinada direção, em vez de outra? E o que o induziu a
fazer uma aliança com o futuro criador da mais nacionalista, autoritária
e anti-democrática ditadura alemã – o Partido Nacional Alemão?
A
resposta está naquilo que movia todos os políticos católicos: os
interesses da Igreja Católica como instituição religiosa. Deixando de
lado a antipatia do Vaticano pelo Socialismo, havia um objetivo imediato
ansiado pelo Vaticano: ele desejava introduzir o estabelecimento formal
da escola confessional no sistema educacional alemão. Isso ele desejava
acima de tudo e seria possível, caso a Alemanha e o Vaticano fizessem
um acordo através de uma favorável Concordata.
Contudo, essa
concordata jamais fora assinada. Nem o orçamento escolar entrara em
efeito. Mas o Cardeal Pacelli soube agir muito bem em favor da Igreja
Católica, tanto que a República abriu os seus cofres à Igreja e os
subsídios do Estado alemão em favor desta aumentaram de 148 milhões de
marcos, em 1925, para 163 milhões de marcos, em 1928.
A opinião do
Cardeal Pacelli sobre como negociar com a grande retaguarda da eleição
de 1928 aumentou de peso no Vaticano, quando ele ficou conhecido como
sendo tão esperto quanto o papa, em seu plano de sacrificar a
ultrapassada política do Catolicismo. O Vaticano já havia começado a
palmilhar aquela estrada, embora após a guerra houvesse muita hesitação
sobre o destino dos partidos católicos alemães, visto como esses haviam
provado ser uma arma inestimável, até mesmo durante os anos que se
seguiram imediatamente à I Guerra Mundial, e parecia que eles ainda
podiam ser de grande utilidade à Igreja. Contudo, realmente, isto não
aconteceu. O Partido Católico já não tinha capacidade de exercer a
grande influência do passado, sem precisar aliar-se a outro partido
qualquer – às vezes até mesmo aos inimigos. Isso era devido em grande
escala ao sistema básico da República. Esta permitia excessiva liberdade
aos grupos políticos, o que aumentava a deterioração econômica da
Alemanha, visto como as massas estavam radicalmente inclinadas para os
assuntos sociais. Também, a perda de milhares de membros católicos do
Partido de Centro, que haviam abandonado o Catolicismo político em favor
de outros movimentos, tendo na maior parte das vezes se juntado às
fileiras dos Sociais Democratas, muito preocupava o Vaticano.
Tudo
isso havia sido considerado durante vários anos, contudo ficou
conhecido o choque que veio com a derrota sofrida pelo Catolicismo
político, na primavera de 1928. Quase meio milhão de eleitores havia
dado as costas ao Catolicismo político. Foi essa a pior derrota
eleitoral já sofrida na história do Partido de Centro. Embora a perda
fosse proporcionalmente enorme, a seriedade do assunto ainda era mais
alarmante para o Vaticano, visto como essa derrota culminava com um
persistente declínio da força do Catolicismo político na Alemanha. Se
este continuasse a declinar desse modo, seria apenas questão de alguns
anos, até que o Partido deixasse de ser uma entidade na vida política da
nação e os “Vermelhos, inimigos seculares da Igreja, teriam
prevalecido”.
O Vaticano havia observado de perto esse declínio e,
após a derrota de 1928, uma estatística do Partido de Centro foi
exigida sobre a mesa, mostrando as perdas desse partido, desde a sua
fundação. O documento foi remetido a Roma por Pacelli. Sua publicação
foi proibida e somente os altos oficiais do Partido e o Vaticano dele
tomaram conhecimento. Conforme esse registro a porcentagem de todos os
eleitores católicos masculinos que haviam dado o seu voto ao Partido
Católico de Centro foi a seguinte:
1875………………………………..85%
1907………………………………..65%
1912………………………………..55%
1919………………………………..48%
1928………………………………..39%
Essa
tendência a um declínio persistente foi a mais séria, visto como havia a
perspectiva de que as perdas continuariam a aumentar, assustadoramente,
e com crescente rapidez, considerando que os trabalhadores católicos
estavam aceitando cada vez mais as doutrinas socialistas, especialmente
depois da aliança do Partido de Centro com o reacionário Partido
Nacional Alemão. Enquanto isso, a juventude católica e a o Serviço
Católico de Espionagem se voltavam para os Nacionalistas alemães.
O
Partido, que havia servido ao Catolicismo alemão por mais de duas
gerações, estava deixando de ser um instrumento político atuante. Algo
mais drástico e efetivo precisava ser feito no sentido de substitui-lo.
Uma nova trilha precisava ser seguida; uma nova política, adotada; novos
métodos, encorajados; novos homens deveriam ser levados ao poder.
Após
a derrota de 1928, os elementos mais reacionários do Partido Católico
tornaram-se todo poderosos. A ala esquerda deixou de contar, até o ponto
em que a direção do Partido estava envolvida. Isso se explicava pelo
fato de que o Partido tornara-se literalmente um instrumento nas mãos do
Núncio Pacelli. Os elementos clericais reinavam supremos. O porta voz
da ala direita do Partido de Centro era o Dr. Ludwig Kaas, professor de
Lei Eclesiástica na Universidade de Bonn e Prelado Papal. Ele havia se
especializado em política exterior. Falava em nome dos grupos do Partido
de Centro no Reichtag sobre assuntos estrangeiros e foi até Genebra com
a delegação alemã.
As principais exigências do Dr. Kaas eram em
favor de “uma política exterior mais ativa”. Ele criticava muito a
política exterior de Stresemann e era contra as tentativas de se
executarem os objetivos alemães através de pacientes negociações. Isso é
digno de nota, pois no tempo em que ele estava advogando esta política
mais ativa, dois outros homens, líderes de dois outros partidos, estavam
advogando exatamente a mesma coisa: Hindengurg, líder do Partido
Nacional Alemão, e Hitler, líder do Partido Nazista, os quais estavam de
acordo com o Prelado Kaas.
É interessante notar ainda que após a I
Guerra Mundial, o Dr. Kaas fora um fervoroso líder de um movimento
separatista, amplamente patrocinado pelos católicos em Rhineland. No dia
10/03/1919, ele estava tão certo de que iria criar um Estado Católico
que telegrafou para Colônia: “Saudações à República do Reno”. Também não
deveria ser esquecido que ele era amigo íntimo do Dr. Seipel, o homem
que estava planejando a criação do império católico na Europa Central.
A
influência do Dr. Kaas no Partido foi bastante fortalecida pelo fato de
que ele era amigo íntimo do Núncio Papal em Berlim, o Cardeal Eugênio
Pacelli. Este e o Dr. Kaas, em várias ocasiões, passaram dias juntos na
Suíça. E as opiniões do Dr. Kaas eram observadas como reflexos das
visões do Núncio Papal. A amizade com o Dr. Kaas foi um dos maiores
incentivos para o firme andamento do Partido de Centro rumo à direita,
visto como Pacelli encorajava grandemente o Catolicismo na Alemanha a
adotar muito cordialmente o ativismo nacional. Esse ponto é mais
notável, visto como em várias ocasiões, imediatamente após a I Guerra
Mundial, o Vaticano havia recusado conceder o seu apoio a idênticas
exigências do Partido de Centro. O Vaticano começou a dar o seu apoio ao
Partido Nacionalista, a partir de 1924, até 1928, sendo que, a partir
de 1928, passou a dar-lhe apoio absoluto, até 1933.
Isto não
deveria ser subestimado, visto como durante esse período o Vaticano
estava delineando e dando forma concreta à sua nova política no mundo.
Suas várias atividades eram todas dirigidas no sentido de minar a
Democracia e o Socialismo, nos vários países. E essas atividades tomaram
forma e foram executadas pelos diversos instrumentos do Catolicismo
político na Europa. Convém notar algumas dessas formas, as quais, embora
variando em caráter, tinham todas, exatamente, o mesmo objetivo. Na
Bavária e na Hungria, o Catolicismo político era legitimista. Na Bélgica
e na Áustria, ele era reacionário. Em Portugal, Espanha e Polônia, ele
era militarista e fascista. Mas, em todo esse cenário internacional, ele
possuía exatamente a mesma estrutura básica, que era o combate ao
Comunismo, patrocinado pelo Vaticano.
Na Alemanha, o Catolicismo
político não podia exercer qualquer posição na estrutura básica
internacional. Mas era preciso esperar e criar circunstâncias favoráveis
para conseguir realizar as necessárias alterações na política alemã.
Foi com esse objetivo que o Vaticano empurrou o Partido de Centro, entre
1924 e 1928. E entre 1928 e 1933, ele o empurrou para uma ditadura.
Os
católicos alemães ficavam cada vez mais sob a influência do clero,
entrando, muitas vezes, em conflito com o Partido de Centro, o que foi
bastante facilitado pela criação da Ação Católica. Ao mesmo tempo, o
Serviço Católico de Espionagem, que já era antagônico à Rússia
Soviética, ficou ainda pior, através do encorajamento do Vaticano. No
Vaticano, e entre os católicos alemães, ficou claro que, além de sua
inimizade comum contra a Rússia comunista, havia outro grande objetivo
diante deles – objetivo esse que era acima de tudo, a conversão da
Igreja Ortodoxa Russa, trazendo-a para o seio da Igreja Católica Romana
(ver capítulo sobre a Rússia e o Vaticano).
Esse ódio e atitude
agressiva em direção à Rússia podiam ser misturados com todos os demais
elementos na Alemanha, os quais mantinham a mesma hostilidade contra
aquele país: os junkers prussianos, os pan-germânicos, os nazistas e
congêneres. Nesse particular, esses grupos estavam de comum acordo com
os vários líderes do Catolicismo político, como o Dr. Kaas, o Chanceler
Bruening, Von Papen e outros.
Mas, nem todos os elementos
católicos eram favoráveis a essa cruzada. Havia muitos que, por razões
puramente políticas, eram contra. Após a derrota do Partido de Centro
houve uma violenta controvérsia, dentro do próprio Partido, com respeito
à futura linha a ser adotada em assuntos sociais e na política
exterior. Mas, com o Dr. Kaas e o Núncio Papal em constante e íntimo
contato, venceu o elemento clerical e em dezembro de 1928, o Dr. Kaas
tornou-se o líder do Partido de Centro. Esse foi o ponto da virada. O
Partido de Centro, a partir de então, ficou totalmente nas mãos do
Vaticano. Os filiados e a burguesia continuaram na crença de que tudo
era como antes, exceto que o Partido agora aplicava uma política mais
reacionária e nacionalista. Contudo, na realidade o Partido de Centro
estava sendo usado para um propósito, que era destruir a Democracia
alemã, o Socialismo alemão e criar uma ditadura que pudesse combater o
Comunismo e garantir os interesses da Igreja Católica, naquela país.
Os
eventos começaram a tomar forma concreta. O plano do Vaticano começou a
funcionar no seio da política alemã. Havia se passado exatamente um
ano, desde a eleição do Dr. Kaas, quando o Dr. Bruening, o fervoroso
deputado católico, foi eleito presidente do grupo parlamentarista do
Partido de Centro e o complô explodiu com os partidos Nacionalista e de
Centro se revelando.
Na recepção de Ano Novo no palácio do
Presidente do Reich, em 1930, Hindenburg esteve para ver pela primeira
vez o homem que lhe fora recomendado pelos conspiradores – o devotíssimo
Dr. Bruening. Disseram-lhe que seria ele o homem que os livraria da
Democracia, que tornaria o Parlamento obsoleto, e que governaria como um
ditador, com o Artigo 48.
Hinderburg e o Dr. Bruening discutiram
planos, levantando várias objeções para se livrar da Democracia, com
muita hostilidade. No final, ele aceitou. Hindenburg repetiu outra de
suas cenas – uma réplica daquela feita com Erzberger, alguns anos antes.
“Repentinamente Hindenburg começou a chorar com as mesmas lágrimas da
vez passada; e com esse gesto histórico que começou e terminou tantos
relacionamentos, ele tomou as duas mãos de Bruening nas suas, falando:
`Tantos me abandonaram; dê-me agora a sua palavra de que, no final de
minha vida, não vai me abandonar´” (Wheeler-Bennet).
Bruening
aceitou. No dia 27/03/1930, o social democrata Mueller renunciou à
Chancelaria do Reich. No dia seguinte, Bruening foi encarregado da
formação do novo gabinete. Em 31/03, Hindenburg nomeou Bruening como
Chanceler do Reich, pela graça do velho general, e apoiado pelo Exército
Alemão.
O dia 01/04/1930 foi uma data histórica para a Alemanha. O
novo chanceler fez seu primeiro aparecimento no Reichtag. O regime
parlamentar na Alemanha havia terminado e o autoritário havia começado.
“Meu gabinete foi formado com uma visão de concluir, no menor tempo
possível, as tarefas geralmente consideradas necessárias ao interesse do
Reich. Será uma tentativa final de executá-las com a assistência do
Reichtag”, falou Bruening. Isto significava que o novo Chanceler não
pedia apoio, mas ameaçava o Parlamento com a dissolução, se aquele apoio
não viesse, logo em seguida. O Reichtag havia escutado essas palavras
desde os dias de Bismarck. O novo gabinete se apresentou como “o governo
de soldados da vanguarda” e a partir daí passou a ser muito importante,
no campo político da Alemanha, se um homem tinha servido na trincheira
da vanguarda ou não. E quando, onde e por quanto tempo.
O plano
Hinderburg/Groener/Schleicher foi finalmente posto em ação. Bruening
havia começado a desempenhar sua missão. Ele apresentou ao Reichtag um
programa financeiro que deveria ser apenas uma desculpa, a fim de tratar
sumariamente com o Parlamento. O conhecimento deste em detalhe não tem
importância. Mas ele proveu o aumento da verba militar, sem levar em
conta o fato de que o Estado estava em má condição financeira, e ainda
advogou uma taxa de eleição, a qual ficou conhecida como “Imposto
Negro”.
Após ter tentado entrar em algum acordo com Bruening, o
Reichtag rejeitou vários pontos do programa. Era com isso que Bruening e
seus companheiros contavam.
Naquela mesma tarde, Bruening decidiu
colocar os pontos rejeitados, pela força, através de um “Decreto de
Emergência” editado pelo Presidente do Reich. Esse decreto se tornou
possível pelo Artigo 48 da Constituição Waimer. Esse artigo permitia que
o Presidente do Reich, “em caso de profundo distúrbio contra a ordem e
segurança pública ou perigo à ordem e segurança pública”, se investisse
de certos poderes ditatoriais, inclusive o direito de promulgar leis
através do assim chamado “Decreto de Emergência”. O texto do Artigo 48
deixava bem claro que esse decreto deveria ser usado apenas em caso de
grande distúrbio e tumulto em perigosa escala, fatores que no momento
não existiam com Bruening.
Dois dias após ter Bruening emitido o
seu primeiro “Decreto de Emergência”, o Parlamento pediu que fosse
retirado. A resposta de Bruening foi dissolver o governo. Novas eleições
foram feitas, no outono seguinte. E nas eleições de setembro de 1930
apareceu a sombra de Hitler, ameaçando o novo governo. Cento e noventa
deputados nazistas entraram no Parlamento.
Homens e eventos caíram
nas mãos do ditador parlamentar. Os Sociais Democratas, que tinham 142
cadeiras no Parlamento, e constituíam, até então, o grupo mais forte no
governo, começaram uma política de “tolerância” em direção a Bruening,
“a fim de evitar o pior”. Estavam com medo de Hitler. Foi uma política
suicida. A crise econômica fez o resto. A política econômica de
Bruening, na opinião de muitos, foi desastrosa. Os salários foram
reduzidos entre 25 e 30%, enquanto a redução no custo de vida, que havia
sido prometida, foi de apenas 10%. E enquanto todos os funcionários do
Estado tiveram o seu salário reduzido é interessante notar que uma
seção, os oficiais de armada, não foram tocados.
Quando Bruening
foi feito Chanceler, havia dois milhões de desempregados na Alemanha.
Quando ele saiu, havia seis milhões e o colapso financeiro havia se
tornado pior, por causa de um bloqueio econômico auto imposto! Se não
fora este caos político e econômico, muitos alemães não teriam sido
influenciados por Hitler, que foi um dos que se beneficiaram alegremente
com essas condições. À medida em que o caos aumentava, aumentavam
também os filiados ao seu partido e, sem dúvida, a promessa de Hitler de
reconstrução e as perspectivas que ele apresentava, de um futuro mais
brilhante, trouxeram-lhe muitos adeptos confiantes.
Bruening tinha
vários planos de natureza econômica e política, através dos quais ele
esperava deixar de pagar indenizações e, ao mesmo tempo, armar a
Alemanha.
Na primavera de 1932, Bruening declarou que, como a
Alemanha havia ficado completamente desarmada, “ela tinha o dever legal e
moral” de exigir o desarmamento de todos os outros países. Enquanto
falava para o mundo dessa maneira, o católico Bruening prosseguiu
armando secretamente a Alemanha. Durante sua chancelaria houve vários
incidentes a respeito disso, sendo um dos mais importantes aquele
conectado com Carl von Ossietzky, ganhador do Prêmio Nobel da Paz, que
foi julgado e condenado por ter revelado as atividades militares
camufladas da aviação civil na Alemanha. Ele foi sentenciado a muitos
anos de prisão, acusado de “traição dos segredos militares”.
Bruening
e o seu Ministro da Defesa trabalhavam de mãos dadas nos armamentos
secretos da Alemanha, os quais, sob o governo de Bruening, se
desenvolviam aceleradamente. Ele e seus amigos militares davam
particular atenção ao exército aéreo. As formações ilegais de caças e
bombardeiros foram ampliadas e fortalecidas, enquanto substanciais
subsídios eram pagos às firmas fabricantes de aviões, tais como os
Junkers e Heinkels. Já existiam nada menos de quarenta e cinco escolas
ilegais de treinamento para vôos militares. Planos estudados nos mínimos
detalhes estavam prontos para o bombardeio da Linha Maginot, bem como
de Paris e Londres. O líder do “Departamento Aéreo”, sob o governo de
Bruening, era o capitão Brandburg – o homem que mais tarde conduziria a
Luftwaffe, quando Londres foi bombardeada.
Entrementes, Bruening
“O Chanceler da Fome”, como o chamavam as massas alemães, estava ocupado
no campo político em conexão com a ascensão do líder nazista. Ele não
via Hitler como um inimigo. Pelo contrário, via nele um aliado que, em
sua fome de poder e como ditador rival, iria ajudá-lo a se livrar da
Democracia, armar a Alemanha e lutar contra o Bolchevismo.
Quase
imediatamente após a eleição de 1930, Goering manteve longas e secretas
negociações com o Ministro Treviranus. E ao mesmo tempo, Roehm, o chefe
da S.A. de Hitler, foi recebido pelo General von Schleicher. Eles
discutiram sobre o Exército, regular e irregular, e concordaram, em
alterar certas características do exército civil nazista, conforme foi
mais tarde revelado.
Após estas preliminares, os dois líderes se
encontraram, novamente, em outubro de 1930. Nunca foi inteiramente
conhecido o que eles discutiram, mas vazou a informação, por causa da
qual fez-se o registro, de que Bruening e Hitler tinham entrado em
acordo para compartilhar o governo e que Bruening colocaria os ministros
nazistas em seu gabinete. Contudo, o acordo fracassou por causa do
número desses ministros aos quais seriam dados cargos.
Tanto
Hitler como Bruening negaram que jamais tivessem feito esses arranjos.
Mas, em certa ocasião, quando Bruening estava fazendo um comício de
católicos, este foi interrompido por uma gang de nazistas. Ele ameaçou
fazer revelações desagradáveis sobre o que Hitler lhe havia
confidenciado a respeito dos seus planos, caso eles continuassem a
interferir nos comícios católicos. Os nazistas replicaram que também
eles poderiam fazer revelações sensacionais sobre o que Bruening havia
contado a Hitler. Ambos os lados, sabendo estar comprometidos, acharam
melhor não ter mais agressões no sentido de fazer revelações sobre o
famoso primeiro comício.
Passou-se um ano, até que os dois líderes
reiniciaram suas negociações, em setembro de 1931. Dessa vez Bruening
agradeceu publicamente a Hitler e aos que o apoiavam, pela “cortesia com
que, apesar de todas as críticas, eles trataram a minha pessoa”.
O
final do mandato de Hindenburg se aproximava e Bruening precisava de
assistência para a reeleição de Hindenburg à Presidente do Reich, que
ele desejava assegurar, através do Parlamento e não de eleições públicas
– um plano totalmente anticonstitucional. Esse plano deu a Hitler uma
posição chave, pois sem o seu partido, esse plano não poderia ser
executado, visto como Hitler tinha 105 cadeiras no Parlamento.
Bruening
sabia qual seria o programa de Hitler, caso ele subisse ao poder.
Também conhecia os seus planos secretos. Além disso, veio à luz o
notório Documento Boxheim, o qual continha detalhes da política de
terror dos nazistas, caso chegassem ao poder.
Que o gabinete de
Bruening estava bancando Hitler ficou evidente no final de 1931, quando
um alto oficial prussiano, um democrata, visitou o Ministro do Interior,
Groener, e pediu-lhe ajuda numa revolta conduzida por um líder de
Berlim da S.A. nazista contra Hitler. A opinião de Hitler, apoiada pelo
governo, foi clara, conforme a resposta de Groener: “Hitler é um homem a
favor da legalidade, o qual prometeu respeitar a Constituição. Devemos
apoiá-lo contra todos aqueles que são agitadores”. Em seguida, para
espanto do entrevistador, o ministro acrescentou: “Hitler, sem dúvida
vai manter sua palavra”. E para dar mais peso, ele acrescentou não ser
aquela apenas sua opinião pessoal, mas a opinião de Bruening, o
Chanceler, que compartilhava inteiramente o seu ponto de vista, sobre o
assunto.
Porém, antes de tentar chegar a um acordo com Hitler,
Bruening fez alguns movimentos preliminares. Não apenas manteve o favor
de Hitler, mas falou bem dele, e recusou dar qualquer passo contra ele e
tentou facilitar-lhe a trilha, de todas as maneiras. Ele conseguiu que,
finalmente, Hitler se encontrasse com Hindenburg, como os outros haviam
conseguido o primeiro encontro com o Velho Marechal de Campo. E, além
disso, ele pediu que o grande industrial católico Thyssen, um dos mais
generosos amigos e financiadores de Hitler, se apressasse a fazer um bom
cartaz do Presidente. Pois, se Hindenburg ficasse pessoalmente
aborrecido com ele, as chances de Hitler agir poderiam diminuir. Ele
pediu a Thyssen que dissesse a Hitler para ser bem moderado ao falar dos
seus planos com o Presidente do Reich.
O encontro com o Marechal
de Campo aconteceu e, finalmente, Bruening e Hitler chegaram a um
acordo. Bruening ofereceu-se para renunciar dentro de doze meses, a fim
de permitir o Gabinete, no qual as posições chaves estariam nas mãos dos
nazistas e, em compensação, Hitler deveria apoiar a eleição de
Hindenburg como Presidente do Reich, e abrir negociações diretas com o
Vaticano para uma Concordata.
A razão de Bruening para adiar sua
renúncia por um ano safisfez Hitler, o qual aceitou a oferta. O
argumento de Bruening era que, se os nazistas estivessem no governo, os
Poderes de Genebra não iriam fazer concessões à Alemanha. E Bruening
esperava pelo menos obter daqueles, a abolição total dos pagamentos de
indenização. Com esse argumento ele convenceu Hitler a ter paciência.
Após
o encontro, Hitler declarou que havia ficado “profundamente
impressionado” com Bruening. Mas, além de ter ficado impressionado com o
plano de Bruening para enganar os Aliados, havia os planos militares a
serem aplicados e o enorme programa armamentista, conforme concebido
pelo católico Bruening. Isso foi testificado mais tarde pelo general
nazista Von Epp, o qual declarou que foram “os planos de rearmamento do
Chanceler do Reich que realmente levaram Hitler a uma decisão”.
Bruening
manteve o Dr. Kaas minuciosamente informado dos seus planos com Hitler,
sendo a tarefa do Dr. Kaas informar fielmente ao papa todo o progresso
das transações. O Vaticano pediu a Bruening para se certificar de que se
Hitler viesse a fazer parte do novo governo os nazistas não seriam
hostis à “verdadeira religião”. Mas, pela segunda vez, nada resultou
dessas negociações.
Na mais importante entrevista com Hitler, em
janeiro de 1932, e para a qual Bruening levou consigo Von Groener e Von
Schleicher, Hitler apareceu acompanhado do chefe de sua S.A., Roehmer,
que era o mais intransigente líder dos nazistas. A oferta de Bruening,
para sua consternação, foi rejeitada. Também o foi pelo Partido Nacional
Alemão.
Vendo que a colaboração com o partido da ala direita, da
extrema direita, havia fracassado, Bruening se voltou para os partidos
de esquerda, sem qualquer hesitação. Teve sucesso em convencer os
Sociais Democratas, que elegeram Hindenburg formando um bloco
republicano contra os partidos de Direita. Ele veiculou um slogan que
agradaria os esquerdistas: “elejam Hindenburg e derrotem Hitler”. Mais
uma vez, os sociais democratas deram os seus milhões de votos para
eleger Hindenburg e derrotaram o plano do Partido Nacional Alemão e de
Hitler.
Mas a eleição, que aconteceu no mesmo ano, chocou de tal
maneira o Vaticano e o Cardeal Pacelli, que estes decidiram apoiar
definitivamente uma nova força política, que seria a única a evitar que a
Alemanha fosse para a Esquerda. O antigo Partido Católico já havia tido
o seu tempo. Somente medidas drásticas poderiam deter o Perigo
Vermelho, isto é, somente o Nazismo. A eleição levou Pacelli e o papa a
tomar5 a decisão de colocar o seu apoio a Hitler. De um total de
35.148.470 votos, o Partido Nazista havia somado 11.737.391, o Partido
Católico 5.326.583, enquanto os Socialistas e Comunistas haviam somado
13.232.292.
Os arqui-inimigos da Igreja Católica estavam fazendo
um tremendo progresso na Alemanha. Se lhes fosse permitido continuar
assim, e a não ser que um punho férreo assumisse o poder e os detivesse,
seria tarde demais. E quem melhor do que Hitler, poderia fazer isso? A
partir daquele momento e, por trás dos bastidores, o Vaticano começou a
agir, tendo como objetivo principal exercer sua influência, no sentido
de levar Hitler ao poder. Ingrato com relação ao apoio da Esquerda,
Hindenburg, logo que foi eleito, voltou-se ferozmente no sentido de
seguir uma política por demais reacionária de caráter Extrema Direita,
até o final de seu mandato, e ofereceu o poder a Hitler.
Entrementes,
Bruening estava tentando destruir a República e restaurar a Monarquia
na Alemanha. Ele sempre estava em completo acordo com a hostilidade da
Igreja contra qualquer forma de governo popular, ou regime republicano, e
com ela, num apoio às monarquias e ao governos autoritários. Esse
espírito do qual estava tão completamente imbuído, era fortalecido pela
sua visão nacionalista. Conquanto Chanceler no governo de uma República,
ele estava trabalhando para destruí-la. Ele havia assumido o Pacto
Constitucional e a Constituição Republicana, que assim começavam
solenemente: “O governo alemão é uma República. O poder político procede
do povo”. Ele havia jurado manter e defender esses princípios. Contudo,
Bruening jamais aderiu à República. Ele era influenciado por três
grandes motivos: sua consciência como católico, que o obrigava a
restaurar a autoridade da Monarquia, pois “a autoridade não vem do
povo”, conforme a Igreja Católica repetia constantemente, e a isso eram
acrescentados os seus fortes sentimentos nacionalistas e o temor dos
Vermelhos, cujo poder ele queria deter.
Bruening teve longas
conversas com Hindenburg, com os líderes dos partidos Nacional e Nazista
e com o Príncipe da Coroa. Hindenburg deveria ser eleito Regente do
Reich, por toda a vida, com 2/3 da maioria do Parlamento, que teria sido
obtida através de coalizão dos partidos da ala direita. E após sua
morte, o segundo filho do Príncipe Real deveria ser proclamado Kaiser.
O
Vaticano continuava bem informado, até mesmo antes de Bruening ter
tomado decisões ativas para colocar esse plano em execução. O Cardeal
Pacelli havia deixado a Alemanha – em 1930 ele havia sido nomeado
Secretário de Estado de Pio XI – mas continuou sendo a principal
autoridade nos assuntos da política alemã. Ele havia abençoado o plano e
o Vaticano estava a favor do mesmo. A condição única imposta pelo
Vaticano sobre Bruening e seus companheiros é que esse plano não tivesse
compromisso nem se envolvesse abertamente em um complô, para evitar
complicações internacionais que dele pudessem advir. Logo que a
Monarquia fosse restaurada, a Igreja Católica daria todo o seu apoio à
mesma, através do seu clero, dos católicos e do Partido de Centro.
Bruening e outros conspiradores concordaram. Externamente, o
procedimento para a execução do plano não devia partir de Bruening, nem
do Partido Católico, nem de qualquer pessoa diretamente ligada ao
Vaticano.
Mais uma vez o esquema fracassou. Dessa vez, devido à
oposição do próprio Hindenburg, que não conseguiu harmonizar esse plano
com a sua perene lealdade ao seu antigo Kaiser. Mais um resultado foi
conseguido por Bruening, enquanto ainda estava no poder. Sob a sua
deliberada orientação, os generais, os grandes industriais, os Junkers e
os extremos nacionalistas foram colocados em posições chaves. A máquina
militar havia reconquistado a Alemanha e se tornado dominante –
principalmente devido aos movimentos do Partido de Centro e, acima de
tudo, aos de Bruening.
Dizia-se freqüentemente que Bruening
visualizava a restauração da Monarquia, a fim de evitar que Hitler
subisse ao poder, porém os fatos não provam essa contenção. O plano
original de Bruening, ao qual Hitler e Hugenberg, o líder do Partido
Nacionalista Alemão aderiram, e estavam prontos a apoiar, era o
seguinte: primeiro, destruir a República; segundo, restaurar a Monarquia
e terceiro, formar um governo inteiramente composto de partidos
fascistas e super fascistas, os quais eram o Partido Nacionalista, o
Partido Nazista e o Partido de Centro. Para chegar a esta última parte
do programa, Bruening prometeu a Hindenburg, bem como a Hitler e
Hugenberg, que, logo que os dois primeiros objetivos fossem alcançados,
ele, Bruening, renunciaria e deixaria livre o caminho para Hugenberg e
Hitler.
O papa e o Cardeal Pacelli estavam, não apenas bem
informados, mas para o último plano que era restaurar a Monarquia, eles
até exigiam uma garantia de que um governo realmente forte “não daria
vez aos Sociais Democratas”, de governar a nova Alemanha. Essas
condições deviam sempre dar garantia absoluta, a fim de salvaguardar os
interesses da Igreja. Essas discussões parlamentares eram realizadas
fora do palco, principalmente através do Dr. Kaas e do camareiro do
papa, Franz von Papen.
Aqui temos as palavras textuais de Bruening relativas aos seus planos, conforme faladas a Hindenburg:
“Dou
a minha palavra de que logo que atingirmos o ponto em que a transição
da República para a Monarquia, seja assegurada, eu renunciarei, e então
vós podeis formar um Gabinete inteiramente dos Partidos da Direita”.
(Nacionalista, Nazista, etc.)
Além disso, Bruening tinha outro
projeto em mente. Era deixar fora de ação o Partido Social Democrata da
Prússia. Esse projeto já havia sido delineado antes de pedir a esse
Partido a ajuda para o seu plano de reeleger Hindenburg, o qual foi
nomeado em 10/04/32 e eleito principalmente pelos votos dos Sociais
Democratas.
Durante várias semanas os planos detalhados estiveram
na mesa de Hindenburg. Após a expulsão do Partido Social Democrata da
Prússia foi feita a tentativa de formar um governo forte de católicos e
nazistas. Monsenhor Kaas estava sempre em contato com o líder católico
Gregor Strasser, tentando chegar a um acordo final com Hitler. Mas
Hitler mudou de idéia no último instante e o plano fracassou. Ele não
cooperou com Bruening porque sabia que o chanceler católico estava
politicamente liquidado. De fato, no dia 30/05/1932, Bruening caiu.
Hindenburg
demitiu Bruening, a conselho dos generais e de outras forças que
estavam agindo em surdina. Eles estavam conspirando para a destruição do
Parlamento Democrata Alemão, a fim de criar uma ditadura. A primeira
fase fora alcançada. A ocasião era propícia para a segunda fase.
O
novo Gabinete foi formado pelo General von Schleicher, antes mesmo da
demissão de Bruening. Mas, a essa altura, os conspiradores mais uma vez
se dividiram entre si. Os generais queriam um homem que lhes deixasse
aberta a porta, na primeira oportunidade. Esse homem já havia sido
escolhido e aceito. Foi outro católico, Franz von Papen. Contudo, o
Monsenhor Kaas, e através dele o Vaticano, desejavam que Hitler e
Hugenberg chegassem ao poder.
Por um longo tempo o Vaticano havia
negociado com os conspiradores e quando ficou sabido que a Chancelaria
fora oferecida a von Papen, e que ele a havia aceitado, o Vaticano
instruiu o Monsenhor Kaas, líder do Partido de Centro, que fizesse von
Papen recusar o cargo. Ele prometeu fazer isso e realmente jurou a Kaas
que iria recusar a oferta. Contudo, quando Hindenburg o pressionou
novamente e von Papen aceitou, Monsenhor Kaas e o Vaticano o censuraram
por ter quebrado a promessa, ao que ele deu uma autêntica resposta
jesuíta. A primeira vez, ele disse, o Presidente lhe ofereceu a
Chancelaria como membro de um Partido Católico e, conforme sua promessa,
ele recusou. A segunda vez a oferta lhe foi feita como a um indivíduo
particular e ele aceitou.
Franz von Papen pertencia a uma família
católica da Westfalia. Ele era rico e, apesar do mau caráter pelo qual
era conhecido, tinha grande influência nos concílios internos do Partido
Católico e no Vaticano. Ele era o proprietário do mais importante órgão
do Catolicismo alemão.
O novo chanceler foi cordialmente apoiado
pelos grandes industriais, pela aristocracia e pelos altos oficiais
católicos de Estado, todos eles sabendo que a sua nomeação era apenas o
último passo para o que há muito estavam almejando. Apesar do revés
sofrido pelo Prelado Kaas e pelo Cardeal Pacelli, em Roma, os assuntos
deveriam seguir a pauta correta para eles, no tempo exato para as
fileiras e organização do Partido Católico, composto de trabalhadores.
Eles se voltaram contra as figuras da liderança do Partido, contra a sua
política e contra o novo chanceler, com mais vigor do que os Sociais
Democratas e, por algum tempo, a liderança do Partido caiu em suas mãos.
Isso fora permitido porque a sorte do Partido já estava selada.
A
significação da subida de von Papen ao poder não foi verificada, senão
por algumas intrigas em Berlim, e ainda menos, pelo pessoal no Vaticano.
Foi o conflito de duas tendências no Partido Católico Alemão que deu o
golpe de misericórdia em Bruening. Os que haviam patrocinado o segundo
curso liderado por von Papen haviam persuadido os vários generais e seus
colegas a “convencer” Hinderburg a demitir Bruening da Chancelaria. Os
dois campos hostis dentro das altas fileiras dos católico alemães de
liderança, estavam divididas no que se referia a abandonar
definitivamente o Partido de Centro e permitir a extinção do mesmo,
conforme decisão do papa, ou permitir que ele continuasse e
desempenhasse o seu papel, numa administração liderada por Hitler. Nessa
administração, os Partidos Nazista e Nacionalista da Alemanha e o
Partido de Centro deveriam ser perfeitos parceiros. A alternativa era
levar à morte o Partido de Centro e entrar num acordo com Hitler sobre
os interesses do Catolicismo e da Igreja na Alemanha.
O primeiro
grupo foi liderado pelo próprio Bruening. Ele havia, em mais de uma
ocasião, deixado o Vaticano saber de sua objeção ao plano do papa se
livrar do Partido Católico, o qual, durante duas gerações, havia servido
tão bem ao Catolicismo, como o Partido Católico mais antigo, mais
poderoso e mais firme da Europa. Em várias ocasiões Bruening havia
prometido renunciar, a fim de deixar livre o caminho para Hitler,
contanto que ao Partido de Centro fosse permitido continuar
desempenhando o seu papel. Até mesmo após sua demissão, Bruening
informou Kaas, e através deste o Vaticano, que estaria pronto a aceitar
um posto no novo gabinete, se Hitler fosse eleito chanceler. Como
Hugenberg, líder dos Nacionalistas, Bruening tinha a ilusão de que
Hitler trabalharia com eles em pé de igualdade. Essa política, que vinha
sendo condenada desde a derrota de 1928, não foi aceita. Kaas e outros
católicos que haviam aceitado a decisão do Vaticano foram levados a
entender, através do Cardeal Pacelli, que algo teria de ser feito, antes
que “eventos não previstos pudessem interferir em nossos planos”. Kaas e
seus cúmplices movimentaram a necessária máquina política por trás de
Hinderburg e Bruening, que já estava em desfavor com as massas alemães e
com os que o haviam colocado no poder, e, então, ele foi demitido.
A
chancelaria de Von Papen foi responsável pelas intrigas de todo tipo,
as quais começaram em Berlim, entre os grupos de generais e os líderes
dos vários partidos: o de Direita e o de Centro, Monsenhor Kaas, Von
Papen, o Vaticano e Hitler. O Vaticano, Monsenhor Kaas e o próprio Von
Papen trabalharam de mãos dadas para conseguir levar Hitler ao poder sem
que houvesse qualquer oposição séria. Eles deveriam preparar o caminho e
facilitar o acesso de Hitler à chancelaria.
Von Papen logo foi
substituído por outro católico, o general Schleicher. Mas o general
tornou-se simpático aos Socialistas e ameaçou expor as transações que
teriam embaraçado alguns católicos da elite e o Vaticano. E o que era
pior, a corrupção de certas negociações em que Hitler e Von Papen
estavam envolvidos. Foi então que Von Papen persuadiu o velho presidente
a tornar Hitler presidente.
Mais tarde, Von Papen, durante uma
preleção feita a uma audiência católica em Colônia, declarou que: “a
Providência me destinou a prestar um serviço essencial para o nascimento
do governo de regeneração nacional” (12/11/1932). No início de janeiro
de 1933, Von Papen encontrou-se com Hitler na casa de um banqueiro de
Colônia e lhe disse que havia chegado a hora de trabalharem juntos. Os
homens e a máquina que o levariam ao poder já estavam prontos e com o
apoio do Vaticano. Por sua vez esperava-se que, quando estivesse no
poder, Hitler destruísse os Partidos Comunista e Socialista, como ação
preliminar, e discutisse uma Concordata com a Igreja Católica. Hitler
prometeu. Entraram as duas partes num acordo. Hitler seria feito
Chanceler e Von Papen, Vice-chanceler. Desse modo, Von Papen convenceu
Hinderburg a solicitar a Hitler que ele se tornasse Chanceler. No dia
30/01/1933, Adolfo Hitler, um católico de nascimento, foi feito
Chanceler da Alemanha.
Depois de ler este relato feito por um dos
mais eruditos historiadores sobre assuntos do Vaticano, não podemos
deixar de concordar que foi, realmente, o Cardeal Eugênio Pacelli,
futuro Pio XII – quem colocou Hitler no poder alemão, a serviço do
Vaticano. Contudo, não se deve esquecer que Pio XI e Pacelli eram apenas
dois lacaios do Papa Negro.
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